
MODA
ACESSÓRIO
BEAUTÉ
LIFESTYLE
BLOGS
MARGOT STREET
14 / 06/ 2017:
By Marcela BrownFãs convictos da série mais aflitiva da Netflix agora têm mais do que a confirmação da quarta temporada para aguardar apreensivamente: na contracorrente dos livros que inspiram filmes, novelas ou seriados, Black Mirror vai virar livro. O anúncio oficial teria sido feito ontem pela editora britânica Penguin Random House, que revelou ainda que o criador da série, Charlie Brooker, será o editor dos três volumes escritos por diferentes autores e com contos motivados pelos episódios cuja tônica é o mal estar coletivo ocasionado pelas redes sociais e outras tecnologias.
Nós, os conectados, como meros espectadores da neurose do século
A ideia não é reproduzir para o universo literário as temporadas já exibidas na plataforma de streaming, mas, ao que tudo indica, fazer valer o percurso inverso das telas para as páginas de livro através de textos que, a exemplo da série antológica, refletem esse processo de “avatarização da vida” em um futuro mais próximo do que pretende nossa vã capacidade de discernir os limites da nossa autoexposição e constante necessidade de aprovação. Cruel? Em fevereiro de 2018, data prevista para o lançamento da obra, haveremos de saber.
Um soco na mente humana, para dizer o mínimo, as duas primeiras temporadas de Black Mirror foram produzidas pelo Channel 4, mas desde a terceira temporada é a Netflix quem comanda o espetáculo e a promessa é que a quarta temporada venha com ainda mais fôlego. Com estreia prevista para final deste ano de 2017, reza a lenda que serão 12 episódios e que um deles será dirigido por ninguém menos que Jodie Foster.
Avatarização da vida em doses sombrias de choques de realidade
Não é de estranhar que a série britânica tenha ultrapassado a barreira das produções Netflix para se transformar em literatura. É impossível passar incólume pelos dissonantes episódios e provocações de Black Mirror. É como se alguém, em outra dimensão do terceiro milênio, estivesse a espreitar a humanidade e surgisse em forma de ficção científica para nos dizer:
– Helloooo! Para que tá ficando feio.
Talvez o modo mais singelo de apreender o que está por trás desta síndrome tecnológica trazida de forma tão inquietante pela sátira, seja entendendo a ideia de que o reflexo no espelho comum representa a alma, nossa personalidade plenamente consciente. Nosso reflexo no espelho tem o poder de nos apresentar uma imagem integral de nós mesmos: através dele, a refração da luz permite que possamos nos conhecer e nos reconhecer em alguma medida.
Protagonismo tecnológico ou mentes programadas?
Já o espelho negro é o justo oposto deste reflexo natural. Por não haver nada além de escuridão neste espelho preto, igualmente não há nele condição para o conhecimento, símbolo por excelência da luz: o black mirror não reflete nada, é a ausência plena da realidade sobre nós mesmos, é a difusão da verdade por uma matéria negra e escura. É a prevalência do ter sobre o ser. Do aparecer sobre o viver.
No episódio Nosedive (Queda Livre na versão brasileira), primeiro da última temporada, tem como figura central uma mulher de personalidade histriônica, desesperada para ser destacada pelas mídias sociais, disposta a arriscar todas as possibilidades que estiverem ao seu alcance para elevar sua avaliação em um aplicativo que enxerga no ser humano a síntese logarítmica das notas a ele atribuído. Glossário: assim, grosseiramente falando, pessoas histriônicas são aquelas que apresentam carência anormal de atenção, agem de modo comportamental altamente dramático ou têm mania protestos excessivos – qualquer semelhança com seu amigo do facebook pode não ser mera coincidência.
Doença do século: no episódio Queda Livre, vale tudo pela aceitação nas redes sociais
Apesar do contexto futurista sugerido nos 13 episódios já exibidos, Black Mirror nada mais retrata que nosso presente singular e nosso vício pela conectividade sem limites que vêm adormecendo uma sociedade inteira a médio prazo – a antologia da Netflix apenas nos traduz de forma ainda mais visionária, nervosa, enegrecida. Portanto, não engane-se: Black Mirror é, sim, senhoras e senhores, o paradigma perfeito desta neurose milenar deflagrada em uma coletividade adoecida pelo sintoma mais patético deste milênio: o da tecnologia a serviço da estupidez.
Leia também:
Saiba por que os emojis vão dominar o mundo
Sete perguntas sobre o Facebook
Por que o instagram é a pior rede social para a saúde mental
Imagens: Netflix/Divulgação
SEJA NOSSA AMIGA!
FAÇA O CADASTRO NA TUA REVISTA DIGITAL FAVORITA E FIQUE POR DENTRO DE TODAS AS NOVIDADES E SORTEIOS!
Reflexão inteligente Marcela Brown!
Provoca pensarmos em que medida estamos
assujeitados ao vício da conectividade sem limites, transformando-se em sujeitos dependentes da auto exposição e aprovação coletiva.
concordo Maria Cecilia, concordo Marcela, e a tecnologia sim está a serviço da estupidez